Por que há exatamente dois sexos?

Recentemente, o biólogo evolutivo Colin M. Wright publicou o artigo “Why there are exactly two sexes”, no qual defende que a definição biológica de sexo se baseia unicamente na produção de gametas – ou seja: quem produz espermatozoides é macho; quem produz óvulos é fêmea (confira). Ele argumenta que as categorias “masculino” e “feminino” não são construções sociais, mas um fato evolucionário universal: a anisogamia (confira).

Como defensor de uma cosmovisão criacionista, considero esse artigo relevante – mas também merecedor de crítica cuidadosa. O autor oferece argumentos científicos que, à primeira vista, reforçam a ideia de dois sexos. Contudo, a partir de uma perspectiva bíblico-criacionista, surgem três áreas de questionamento que merecem atenção:

1. Base evolucionária vs. base criacionista. Wright fundamenta sua defesa no pressuposto da evolução e da seleção sexual como explicação última para a separação de sexos. Ele afirma que “há somente dois tipos de gametas – pequenos e móveis (esperma) e grandes e imóveis (óvulos) – e, portanto, há exatamente dois sexos”. Contudo, a visão criacionista entende que Deus, ao criar “masculino e feminino” (Gênesis 1:27), não estava ou estaria guiado por processos de seleção ou acaso, mas por propósito e design intencional. A ênfase científica no “por que evoluiu” assume que o binário sexual é um produto de história evolutiva – o que conflita com a afirmação de que a estrutura sexual é estabelecida desde a criação.

2. Gametas como critério exclusivo. O artigo considera o gameta como a essência da definição de sexo: “Sexo é a classe reprodutiva cujo sistema biológico está organizado para produzir um dos dois tipos de gametas.” Mas essa abordagem cria um risco de simplificação: no caso humano, há condições intersexuais ou variações de desenvolvimento sexual (DSD) que desafiam a aplicação direta de tal definição. A ciência mostra que nem sempre o indivíduo adulto produz ou produzirá gametas, ou que seu sistema está perfeitamente organizado conforme o “padrão”. A partir de uma perspectiva criacionista, isso aponta para a “quebra” do ideal original (Gênesis 3) – e não para uma prova de que o binário seja consequência evolutiva. Em outras palavras: variações não derrubam a norma, mas revelam o efeito da queda.

3. Limites da biologia para explicar valor e pessoa. Mesmo que aceitemos o argumento de Wright – de que na natureza existem dois papéis sexuais reprodutivos distintos –, isso não resolve a questão de identidade, propósito e valor humano. A cosmovisão evolutiva muitas vezes reduz o homem a “agente reprodutor” ou “provedor de gametas”, enquanto o criacionismo insiste que o ser humano é “à imagem de Deus” (Gênesis 1:27), com valor intrínseco além da função reprodutiva. O artigo falha em integrar significado, propósito ou valor último – elementos centrais para a visão cristã.

Conclusão

O artigo de Colin Wright contribui para o debate científico ao reafirmar o binário sexual sob a definição gamética. Entretanto, do ponto de vista criacionista, ele permanece incompleto – pois não aborda a origem intencional, o design e o propósito humano; limita-se ao explanar “como” e não “por que”.


Se há apenas dois sexos, como ele defende, esse fato pode, sim, ser visto como coerente com a narrativa bíblica de Gênesis. Mas devemos lembrar que a “queda”, a “quebra” e o “restauro” são partes da história humana que a biologia sozinha não explica.

Para leitores do blog Criacionismo, o convite permanece: usemos a ciência com humildade, verifiquemos suas alegações, entremos em diálogo, mas tenhamos como alicerce a Palavra revelada, que não depende apenas de gametas para definir o humano, mas declara que Deus nos formou, conheceu e amou antes de fazermos “números reprodutivos”.

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