“Dia de Darwin”: a mídia não quis estragar a festa

Hoje é celebrado o Dia de Darwin. Neste dia, em 2008, postei o seguinte texto:

Que o povo brasileiro é dado à idolatria, todo mundo já sabe. Mas esta é demais: vamos entrar na onda idolátrica do culto a Darwin. Hoje (12/2) é comemorado o aniversário de 198 anos de nascimento do naturalista inglês Charles Darwin. O “Dia de Darwin”, segundo os organizadores, é uma data celebrada internacionalmente como uma “oportunidade para a divulgação científica em geral e da teoria da evolução em particular”. Mas o que se vê mesmo é muito pouca divulgação científica e muita louvação a um cientista cuja teoria vem enfrentando fortes críticas extra e intramuros.

Stephen Jay Gould (1980) e Lynn Margulis, mais recentemente (2005) na conferência sobre evolução nas ilhas Galápagos, disseram que o neodarwinismo já está morto há muito tempo, mas persiste como ortodoxia nos livros didáticos. “Por que William Provine, da Cornell University, mencionou a necessidade de outra teoria da evolução? Por que a grande mídia não destaca tudo isso?”, pergunta o ex-ateu e coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente (NBDI) Enézio de Almeida Filho.

E pergunto mais: Por que só Darwin e não outro cientista merece esse destaque? Por que não há um dia para Einstein ou Newton, que deram muito mais contribuições à ciência? Segundo Enézio, essa seria uma grande oportunidade para a discussão de temas como a mutação e o mecanismo de seleção natural, o registro fóssil e as origens humanas, a função do “DNA lixo”, a complexidade integrada da vida, problemas na elaboração de filogenias, etc. Mas esqueça. Isso não será discutido. Darwin continuará sendo blindado e sua teoria “recauchutada” a cada 50 anos, sem conseguir explicar como se deu a evolução e muito menos a origem das espécies.

A grande prova disso foi a recusa da mídia nacional de divulgar um fato constrangedor para o darwinismo – talvez para não estragar a festa em memória ao Darwin-ídolo. O EurekAlert, serviço eletrônico de notícias científicas que todas as editorias de ciência do Brasil recebem (inclusive o JC e-mail, da SBPC, e o boletim da Fapesp, entre outros) divulgou no dia 9 a contestação da base fundamental da teoria da evolução por parte de um cientista darwinista.

Eis a “bomba”:

Jeffrey H. Schwartz, professor de antropologia na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Pittsburgh, está trabalhando para demonstrar a falsidade de um principal dogma da evolução darwiniana. Schwartz crê que as mudanças evolutivas ocorrem subitamente opostas ao modelo darwiniano de evolução que é caracterizado pela mudança gradual e constante. Entre outras observações científicas, as lacunas no registro fóssil podem apoiar a teoria de Schwartz porque, para ele, não existe “elo perdido”.

Num exame que desafia bastante o modelo darwiniano, Schwartz e o coautor Bruno Maresca, professor de bioquímica na Universidade de Salerno, Itália, examinam a história e o desenvolvimento daquilo que os autores nomeiam de “Molecular Assumption” (MA) [Pressuposição Molecular] no artigo “Do molecular clocks run at all? A critique of molecular systematics” [Os relógios moleculares funcionam? Uma crítica à sistemática molecular], na edição da revista Biological Theory de 9 de fevereiro.

A pressuposição MA tornou-se uma teoria científica verificável quando em 1962 os bioquímicos Emil Zuckerkandl e Linus Pauling demonstraram a semelhança de espécies através da utilização da atividade imunológica entre o soro sanguíneo e um antissoro construído. Após observarem a intensidade reatividade do soro e do antissoro entre o sangue humano, de gorila, cavalo, galinha e peixe, Zuckerkandl e Pauling deduziram a “relação especial” – quanto mais intensa a reação, mais proximamente aparentadas deveriam ser as espécies.

O sangue de peixe foi o mais dessemelhante, assim pensou-se que a linhagem dos peixes divergiu muito antes das outras espécies. O sangue humano e de gorila foram os mais semelhantes, significando que as duas espécies tiveram menos quantidade de tempo para divergirem. Finalmente, o modelo darwiniano de mudança evolutiva constante foi imposto sobre a observação estática feita por Zuckerkandl e Pauling.
Até hoje a comunidade científica aceitou a pressuposição MA como uma verdade científica. É essa pressuposição que Schwartz está considerando: “Isso sempre me chocou como sendo uma coisa muito estranha – que esse modelo de mudança constante nunca foi desafiado.” Schwartz tem as suas próprias teorias relativas à evolução que são apoiadas por desenvolvimentos recentes em biologia molecular.

Os animais multicelulares têm grandes seções de genomas, o material genético de um organismo, que controlam o seu desenvolvimento. Schwartz argumenta que a estrutura do genoma não fica mudando, com base na presença de “stress proteins“, também conhecidas como “heat shock proteins“. Essas proteínas estão localizadas em cada célula, e a principal função delas é eliminar o potencial de erro e mudança celular pela manutenção da forma celular normal através do dobramento de proteína.

Essa manutenção celular regular é o que destaca Schwartz relativa à sua refutação da mudança celular constante. “A biologia da célula parecer ir ao contrário do modelo que as pessoas têm na sua cabeça”, disse Schwartz; e ele argumenta que se as nossas moléculas estivessem mudando constantemente, isso ameaçaria a própria sobrevivência, e animais estranhos estariam surgindo rapidamente no mundo inteiro. Conseqüentemente, Schwartz argumenta que a mudança molecular é realizada somente por stressors ambientais significantes, tais como mudança rápida de temperatura, mudança severa de alimentação, ou até a aglomeração física.

Se as “stress proteins” de um organismo são incapazes de suportar uma mudança significante, a estrutura genômica pode ser modificada. Todavia, Schwartz salienta, uma mutação também pode ser recessiva num organismo por muitas gerações antes de aparecer em seu descendente. Se o descendente sobrevive ou não é outra questão. Se sobrevive de fato, a presença desse organismo modificado geneticamente não é o produto de mudança molecular gradual, mas uma amostra súbita de mutação genética, que pode ter ocorrido milhares de anos antes.

Contudo, não é somente a atual teoria molecular que intriga Schwartz, mas a omissão da comunidade científica em questionar uma ideia que tem mais de 40 anos: “A história da vida orgânica é indemonstrável; nós não podemos provar muita coisa em biologia evolutiva, e as nossas descobertas serão sempre hipóteses. Há apenas uma verdadeira história evolutiva da vida, e se verdadeiramente nós iremos conhecê-la, é improvável. O mais importante de tudo, temos de pensar sobre questionar as pressuposições fundamentais, se estivermos lidando com moléculas ou qualquer outra coisa”, disse Schwartz.[1]

Schwartz é fellow da prestigiada American Association for the Advancement of Science e da World Academy of Art and Science. Ele é autor de vários livros, incluindo The Red Ape: Orang-utans & Human Origins (Westview Press, 2005) e Sudden Origins: Fossils, Genes, and the Emergence of Species (Wiley, 2000). Ele passou mais de 20 anos considerando os métodos, as teorias e a filosofia de anotar dados e tentar interpretá-los com propósitos de reconstrução de relações evolutivas.

A sonegação desse tipo de informação pela mídia vai ao encontro da opinião do coordenador do NBDI, para quem o “Dia de Darwin” não é uma “celebração ao conhecimento científico e à valorização da diversidade, mas a imposição de uma camisa de força epistemológica, um convite ao suicídio intelectual que leva à ‘síndrome do soldadinho de chumbo’: o pensamento uniforme. Ora, se todos estão pensando a mesma coisa, ninguém está pensando”.

O que a mídia também não divulga é que a lista dos dissidentes de Darwin já está com 700 cientistas (www.dissentfromdarwin.org) [na época]. Até da Academia de Ciência da Rússia! Alguns professores de universidades públicas brasileiras também já ousam figurar entre os dissidentes de peso, como o Dr. Michael Egnor, professor laureado de neurocirurgia e pediatria na State University of New York. Recentemente, o Dr. Egnor disse: “O darwinismo não desempenha nenhum papel na medicina. Ponto final. Os darwinistas não demonstraram nenhuma evidência de que a seleção natural seja capaz de gerar quantidades significativas de informação.” E esse pessoal não é criacionista…

Por esta Darwin não esperava: o “Dia de Darwin” já virou “dia de guarda” no calendário dos neoidólatras. Ironicamente, o ídolo, que está enterrado na abadia de Westiminster, era agnóstico.

Mas pra que estragar a festa, né? [MB]

“Árvore da Vida” de Darwin sofre ataque na base

Cada vez mais parece que a tal “árvore” de Darwin está mais para “gramado”.

ctenoforo

A “árvore da vida” de Darwin está sofrendo outro golpe. A raiz da vida multicelular deveria ser o mais simples, o mais primitivo animal. Agora, os cientistas estão considerando seriamente que a “mãe de todos os animais” foi um animal complexo com intestino, tecidos, sistema nervoso e um surpreendente display luminoso: uma água-viva, da família dos ctenóforos. PhysOrg preparou o anúncio como se fosse maximizar a surpresa: “E o primeiro animal sobre a Terra foi…” Se o suspense está matando você, considere o impacto sobre os cientistas que, com recursos para pesquisa da National Science Foundation, concluíram que foi uma água-viva. Casey Dunn exclamou: “Isso foi totalmente um choque. Tão chocante que pensamos inicialmente que algo tinha dado errado.”

As águas-vivas são mais complexas do que as esponjas, há muito tempo consideradas como os animais mais primitivos porque não dispõem de tecidos e órgãos. Colocar uma água-viva na base da árvore de Darwin leva o mistério da evolução dos tecidos complexos para um passado inobservável.

Dunn disse que as antigas águas-vivas provavelmente pareciam diferentes das atuais, mas um fóssil de água-viva encontrado ano passado nas rochas fossilíferas do período Cambriano na China parecia essencialmente moderno. Ele foi datado como do início do período Cambriano — supostamente com 540 milhões de anos.

Science Daily começou seu relato com um sumário do impacto: “Uma nova pesquisa mapeando a história evolucionária dos animais indica que o primeiro animal da Terra — uma criatura misteriosa cujas características somente podem ser inferidas de fósseis e de pesquisas com animais vivos — foi provavelmente mais significantemente mais complexo do que previamente crido.” Um título secundário foi “Sacudindo a árvore da vida”.

Ironia do destino: essa notícia foi capa da revista Nature de 10 de abril deste ano, com o título “Relações ampliadas”.

Na ilustração abaixo está a tal “árvore da vida” (interessante essa tentativa de paráfrase de outra árvore da vida registrada em Gênesis…), que constava, ilustrada de forma bem mais simples, do livro A Origem das Espécies. Cada vez mais parece que a tal “árvore” de Darwin está mais para “gramado”.