Nova pesquisa desafia modelo evolutivo do ciclo celular eucariótico

A origem da célula eucariótica representa uma das inovações mais significativas na história da vida. As células procariontes e eucariontes apresentam estruturas de divisão celular bastante distintas, tanto nos mecanismos de bifurcação celular e de segregação do DNA, como nos componentes proteicos subjacentes que conduzem esses processos. O estudo realizado pelo Dr. Jonathan McLatchie traz uma série de informações que contrapõem o atual modelo evolutivo sobre as origens do ciclo de divisão celular dos eucariontes. O artigo foi publicado em novembro de 2024 no periódico BIO-Complexity[1] e pode ser acessado aqui. O Dr. Jonathan McLatchie é bacharel em Biologia Forense pela University of Strathclyde, mestre (M.Res) em Biologia Evolutiva pela University of Glasgow, mestre em Biociência Médica e Molecular pela Newcastle University e doutor em Biologia Evolutiva pela Newcastle University. Anteriormente, Jonathan foi professor assistente de biologia no Sattler College, em Boston, Massachusetts. 

O estudo retrata detalhadamente a engenharia e o design requintado presente no ciclo celular eucariótico e em seus sistemas de controle. O artigo argumenta que várias características da divisão celular eucariótica exibem complexidade irredutível. Além disso, quase todos os componentes (que são inferidos por estudos filoestratigráficos anteriores como presentes no último ancestral comum eucariótico) parecem ter surgido após a divisão entre as linhagens arqueana e eucariótica.

A pesquisa revelou que a maioria dos componentes mitóticos já estavam presentes no último ancestral comum eucariótico (LUCA). Dada a presença de complexidade do ciclo celular semelhante ao moderno no LUCA, espera-se que existam homólogos entre procariontes para pelo menos alguns dos componentes envolvidos. Esse estudo usou a Basic Local Alignment Search Tool (BLAST) para pesquisar os proteomas de procariontes (em particular, membros do superfilo Asgard) para potenciais homólogos de componentes do complexo promotor de anáfase/ciclossomo (APC/C) e seus substratos e o complexo de ponto de verificação mitótico (MCC) e rede cinetocoro. Os homólogos dos componentes mitóticos não puderam sequer ser identificados entre as arqueias de Asgard, um superfilo que se acredita representar os ancestrais vivos mais próximos dos eucariotos. 

Embora os dados encontrados não tenham demonstrado de forma definitiva a presença de homólogos completos para a maioria das proteínas investigadas, a análise revelou que a maquinaria mitótica está intimamente associada à eucariogênese. Além disso, a cronologia relacionada à origem desses mecanismos não é precisa, e mesmo uma grande janela de tempo (por exemplo, 2-3 mil milhões de anos) não seria suficiente para que mecanismos evolutivos não guiados produzissem sistemas com esse nível de complexidade.

FALANDO SOBRE OS RESULTADOS

A relevância dos resultados é particularmente interessante, dado que não há essencialmente nenhuma similaridade entre o modo de divisão celular empregado por células eucarióticas e aquele empregado por células procarióticas, seja em termos dos componentes proteicos envolvidos ou da lógica subjacente. Dada a natureza crucial de muitos dos componentes da divisão celular em procariotos e eucariotos, parece improvável a existência de um caminho viável do ciclo de divisão celular procariótica para eucariótica que evite intermediários inviáveis.

É valido trazer à memória a maneira como Darwin lidava com a questão da evolução por seleção natural, abordada em em seu livro A Origem das Espécies como: “natura non facit saltus”, expressão latina que significa “a natureza não faz saltos”. Ao contrário do que Darwin acreditava, o que encontramos nos registros fósseis, no que tange à história da vida, é uma imensa diversidade de “saltos” descontínuos.[2, 3] Esse “salto” também pode ser observado na biologia molecular, especialmente referente às origens da vida por meio da transição das células procarióticas para eucarióticas, e as origens da multicelularidade. O artigo em questão pontua que a descoberta de genes e proteínas taxonomicamente restritas, que não têm precursores anotados a partir dos quais possam ter evoluído, também ilustra um padrão de “saltos” na história da vida. Abaixo, abordaremos algumas informações relevantes sobre essa temática.

OBSTÁCULOS SIGNIFICATIVOS À ORIGEM DO CICLO CELULAR EUCARIÓTICO POR MEIO DE PROCESSOS EVOLUTIVOS

CONDENSINAS


Condensinas são proteínas essenciais para organizar e compactar os cromossomos durante a divisão celular, garantindo que sejam distribuídos corretamente para as células-filhas. Elas atuam em momentos específicos da divisão: a condensina I reforça os cromossomos quando o núcleo já está desmontado, enquanto a condensina II começa a compactação no início do processo.

As moléculas de condensina são compostas de cinco subunidades (como mostrado na figura), incluindo as proteínas SMC (Manutenção Estrutural dos Cromossomos) SMC2 e SMC4, que possuem atividade de produção energética (ATPase). As proteínas SMC possuem domínios coiled-coil (braços longos e flexíveis que se dobram sobre si mesmos, criando uma estrutura em forma de V), um domínio de dobradiça que facilita a dimerização das duas proteínas SMC; e domínios de cabeça contendo sítios de ligação de ATP e ATPase, energizando as atividades das condensinas. Além das subunidades SMC, há também três subunidades não SMC, que se ligam a regiões específicas do DNA e auxiliam na regulação da atividade de condensação.

Resumidamente, essas proteínas formam um complexo com cinco partes principais, incluindo duas chamadas SMC (Manutenção Estrutura dos Cromossomos – responsáveis por usar energia para dobrar e estabilizar o DNA em loops) e outras três que ajudam a direcionar as SMC para os pontos certos no DNA. Juntas, elas criam uma estrutura compacta e organizada, indispensável para que os cromossomos fiquem prontos para a divisão. Desse modo, fica evidente que as condensinas são cruciais para o processo de divisão celular. Na ausência delas, a consequência seria a desorganização cromossômica, bem como grande dificuldade em atingir a segregação adequada durante a mitose.

CINETOCOROS

O cinetocoro é uma estrutura proteica complexa, localizada no centrômero dos cromossomos, essencial para a divisão celular. Ele atua como uma ponte entre os cromossomos e os microtúbulos do fuso mitótico, permitindo a captura e o transporte dos cromossomos durante o processo de divisão, até os polos da célula.

As principais funções dos cinetocoros incluem a fixação dos microtúbulos aos cromossomos, a geração de força para movimentar os cromossomos ao longo do fuso mitótico e o controle da separação e do direcionamento dos cromossomos para os polos opostos da célula. Durante a metáfase, os cinetocoros ajudam a alinhar os cromossomos no centro da célula, garantindo que o material genético seja igualmente distribuído entre as células-filhas. Além disso, os cinetocoros detectam a tensão gerada pelos microtúbulos para assegurar uma conexão correta. Se houver qualquer erro nesse processo, como ambos os cinetocoros de um par de cromátides irmãs se conectarem ao mesmo polo, esses problemas podem ser corrigidos pela maquinaria associada aos cinetocoros.

Qual seria a consequência da ausência de cinetocoros? Isso resultaria em uma inadequada fixação e tração dos cromossomos ao aparelho do fuso mitótico e o material genético seria distribuído de forma desigual para as células-filhas. Tal fator evidencia a relevância dos cinetocoros para o processo de divisão celular ao ponto de serem encontrados obrigatoriamente em todos os organismos eucarióticos conhecidos.

SEPARASE E O COMPLEXO PROMOTOR DA ANÁFASE

A transição da metáfase para a anáfase, durante a divisão celular, é controlada por uma “máquina molecular” chamada APC/C, que funciona como um marcador que direciona certas proteínas para serem destruídas. Ela trabalha juntamente com outra proteína, chamada Cdc20, e quando estão conectadas, atuam para eliminar a securina, uma proteína que impede que as cromátides (as duas partes idênticas de um cromossomo duplicado) se separem. Dessa forma, quando ligado ao seu coativador, Cdc20, o APC/C funciona para ubiquitilar (marcar) a securina. A ubiquitilização da securina a direciona para destruição pelo triturador molecular da célula, o proteassoma. Quando a securina é destruída, uma enzima chamada separase é ativada. A separase corta um “anel” chamado coesina, que mantém as cromátides unidas. Isso permite que as cromátides irmãs se separem e sejam tracionadas para lados opostos da célula.

Na ausência da separase, as cromátides irmãs não conseguiriam se separar e a célula seria incapaz de separar seus cromossomos na anáfase. Evidência disso foi observada em estudos experimentais de Knockout, os quais indicaram que a ausência da separase resulta em letalidade embrionária.[4,5] A progressão do ciclo celular também seria interrompida na ausência da APC/C, inibindo a progressão da fase de metáfase para a anáfase. Estudos experimentais que eliminaram a APC2 (uma subunidade central da APC/C) em roedores, por exemplo, resultaram em falha letal da medula óssea em apenas sete dias.[6]

AURORA QUINASE

As aurora quinases são proteínas importantes para garantir que os cromossomos sejam organizados e distribuídos corretamente durante a divisão celular. Uma delas, chamada Aurora quinase A fosforila proteínas envolvidas na organização dos microtúbulos (filamentos que tracionam os cromossomos) e facilita a fixação precisa dos microtúbulos ao cinetócoro. Um estudo mostrou que, quando a aurora quinase A está ausente, embriões de camundongos não sobrevivem além do estágio inicial de desenvolvimento (mórula com aproximadamente 16 células), pois apresentaram problemas na montagem do fuso, culminando em erros na divisão celular.[7] Isso demonstra o papel indispensável dessa proteína no processo de mitose.

MICROTÚBULOS

Microtúbulos são estruturas finas e tubulares formadas por proteínas chamadas tubulinas. Eles fazem parte do citoesqueleto, que dá suporte e forma à célula. Na divisão celular, os microtúbulos desempenham um papel crucial ao formar o fuso mitótico, uma estrutura que organiza e separa os cromossomos. Eles se conectam aos cromossomos por meio dos cinetocoros e ajudam a puxar as cromátides irmãs para os polos opostos da célula, garantindo que o material genético seja dividido igualmente entre as células-filhas.

Os microtúbulos irradiam dos centrossomos e ancoram no complexo cinetocoro, montado ao redor do centrômero de cada cromossomo. Durante a metáfase, os cromossomos são alinhados ao longo do plano equatorial da célula, ligados aos microtúbulos no cinetocoro. Na anáfase, as cromátides irmãs são separadas pelos microtúbulos, impulsionadas pelas forças do fuso polar.

Na ausência dos microtúbulos, a montagem do fuso mitótico seria severamente prejudicada, inibindo o alinhamento e a segregação dos cromossomos. Um estudo experimental com embriões de camundongos deficientes em γ-tubulina, (gama-tubulina) proteína essencial para a organização dos microtúbulos na célula, exibem uma parada mitótica que interrompe o desenvolvimento nos estágios de mórula/blastocisto.[8] 

O artigo ainda pontua a relevância de proteínas motoras (cinesina e dineína), sobre os pontos de verificação do ciclo celular e o papel das cinases dependentes de ciclina e das moléculas de ciclina na progressão do ciclo celular e conclui ponderando as evidências de complexidade irredutíveis no processo de divisão celular e sua incompatibilidade com o modelo evolucionista. Você pode ler o resumo aqui.

Nota: A análise dos componentes essenciais do aparato de divisão celular mitótica realizados pelo Dr. Jonathan McLatchie revela uma intricada rede de dependências mútuas, em que cada peça desempenha um papel indispensável para o funcionamento do sistema como um todo. Microtúbulos, cinetocoros, proteínas reguladoras, e outros elementos interativos precisam trabalhar em perfeita harmonia para garantir a segregação precisa dos cromossomos. Essa característica torna o processo de divisão celular mitótica um exemplo marcante de complexidade irredutível.

Na biologia, um sistema é considerado irredutivelmente complexo quando a remoção de qualquer um de seus componentes torna o sistema incapaz de cumprir sua função. Na divisão celular, a ausência de qualquer elemento essencial – como a γ-tubulina para a nucleação dos microtúbulos ou o complexo APC/C para a transição da metáfase para a anáfase – inviabiliza o processo, levando à falha celular e até à morte do organismo em alguns casos. Isso demonstra que a divisão celular não poderia ter surgido de forma incremental por meio de processos cegos, como proposto pelo modelo evolucionário clássico.

A existência de sistemas com essa complexidade requer não apenas interação, mas também coordenação e especificidade previamente organizadas. Tal nível de integração aponta para a necessidade de previsão e planejamento, sugerindo que explicações meramente mecanicistas podem ser insuficientes para abordar as origens da divisão celular eucariótica.

Por esse e outros motivos outrora abordados, como bióloga, creio no planejamento e nas intencionalidade da criação de todas as formas de vida existentes, especialmente representadas por sua unidade básica que é célula. A vida é a obra prima de um Deus Criador.

(Liziane Nunes Conrad é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestre em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])

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Referências:

1. McLatchie J (2024) Phylogenetic Challenges to the Evolutionary Origin of the Eukaryotic Cell Cycle. BIO-Complexity 2024 (4):1–19 doi:10.5048/BIO-C.2024.4.

2. Erwin D, Valentine J (2013) The Cambrian Explosion: The Construction of Animal Biodiversity. Roberts and Company (Greenwood Village, CO).

3. Meyer SC (2013) Darwin’s Doubt: The Explosive Origin Of Animal Life And the Case For Intelligent Design. HarperOne (New York).

4. Kumada K, Yao R, Kawaguchi T, Karasawa M, Hoshikawa Y, et al (2006) The selective continued linkage of centromeres from mitosis to interphase in the absence of mammalian separase. J Cell Biol. 172(6): 835-46.

5. Wirth KG, Wutz G, Kudo NR, Desdouets C, Zetterberg A, et al (2006) Separase: a universal trigger for sister chromatid disjunction but not chromosome cycle progression. J Cell Biol. 172(6): 847-60.

6. Wang J, Yin MZ, Zhao KW, Ke F, Jin WJ, et al (2017) APC/C is essential for hematopoiesis and impaired in aplastic anemia. Oncotarget. 8(38): 63360-63369.

7. Lu LY, Wood JL, Ye L, Minter-Dykhouse K, Saunders TL, Yu X, Chen J (2008) Aurora A is essential for early embryonic development and tumor suppression. J Biol Chem. 283(46): 31785-90. doi:10.1074/jbc.M805880200

8. Yuba-Kubo A, Kubo A, Hata M, Tsukita S (2005) Análise de nocaute genético de duas isoformas de gama-tubulina em camundongos.  Dev Biol. 282(2): 361-73.

Gênesis e o boneco de barro

“É assim que Deus disse?”

adao

É muito comum ouvirmos em várias e distintas ocasiões, bem como lermos em diversas publicações de cunhos distintos, versões deterioradas do relato singelo, mas pleno de profundo significado, sobre a origem do ser humano que se encontra em Gênesis 2:7: “Então, formou o Senhor Deus ao homem, do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” De fato, nesse relato bíblico inserem-se preciosas informações inspiradas que muitas vezes passam despercebidas até mesmo de sinceros pesquisadores da verdade, dentre as quais algumas que serão consideradas neste breve texto. Entretanto, também deteriorações grotescas desse relato têm ocorrido e sido apresentadas, como, por exemplo, a que substitui o texto de Gênesis 2:7 pela expressão vulgar de que “Deus formou um ‘boneco de barro’ e soprou nele o fôlego da vida”.

Teria sido isso o que Deus realmente disse, ou essa expressão vulgar na realidade reflete mais uma investida velada e insidiosa contra a autoridade e a veracidade da revelação de Deus ao ser humano, da mesma forma como a que foi feita a respeito das condições estabelecidas para a continuidade da manutenção do fôlego de vida no ser humano recém-criado, com a afirmação de que “é certo que não morrereis!” (Gênesis 3:4)?

De fato, aquela expressão vulgar sobre o “boneco de barro”, que ouvimos e lemos, tem sido usada com bastante frequência tanto no meio secular – seja no âmbito educacional nos seus vários níveis (desde o pré-escolar até a pós-graduação), seja no âmbito eclesiástico cristão (em publicações escritas e na pregação do próprio púlpito, irradiada e televisionada), e seja ainda nos meios de comunicação em geral, incluindo hoje as indefectíveis redes sociais.

Comparando-se as duas expressões acima mencionadas, verifica-se inicialmente que ficou explícita na segunda expressão a substituição de “pó” por “barro” e a eliminação da informação de que “o homem passou a ser alma vivente”.

Com relação à substituição ocorrida, pode-se deduzir que ela foi necessária para que fosse forjada uma cena antropomórfica da criação do homem, em que se partisse de algo que pudesse ser comparado a uma “imagem” do ser humano tal qual o conhecemos hoje (na forma de um “boneco de barro”), para que então ele recebesse o “sopro de vida”. Deve-se lembrar, ainda, que o texto bíblico já tinha esclarecido que o homem foi formado “à imagem de Deus” (Gênesis 1:2). Assim, essa é mais uma razão para ser rejeitada a degradação do relato bíblico ocorrida com a introdução dessa “imagem do boneco de barro”.

Fica claro que a expressão “imagem” utilizada em Gênesis pouco tem a ver com o aspecto físico que teria sido atribuído ao “boneco” e sim com as características mentais e espirituais desse novo ser criado por Deus, que o próprio texto bíblico esclarece ter sido criado “um pouco menor do que os anjos” (Salmo 8:5) – outros seres também criados por Deus, conforme Seu desígnio e propósito, sem necessidade de algum suposto “boneco” protótipo feito a partir de qualquer outro material.

O seguinte texto reflete bem o que se deveria considerar como principal característica da “imagem de Deus” refletida no ser humano: “Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus. A mente era capaz de compreender as coisas divinas. As afeições eram puras; os apetites e paixões estavam sob o domínio da razão. Ele era santo e feliz, tendo a imagem de Deus e estando em perfeita obediência à Sua vontade” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 44, 45).

Por outro lado, no relato bíblico da criação da mulher, é dito que “a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e a trouxe para ele” (Gênesis 2:22).

Como se vê, o relato bíblico não fala de uma “boneca” de qualquer material, mas permite inferir que deve ter ocorrido uma série de operações cirúrgicas efetuadas juntamente com transformações altamente complexas do tipo que hoje caracterizam os processos de “clonagem”, em conformidade com o planejamento estabelecido pelo Criador a partir de substâncias pré-existentes, para entregar a Adão uma “coadjutora”, com desígnio e propósito.

Assim, tanto no caso da criação do homem quanto no da mulher, ambos foram criados a partir de elementos e substâncias previamente existentes, que, por sua vez, haviam sido criados por Deus a partir do nada, mediante Sua Palavra – “Deus falou e tudo se fez” (Salmo 33:9) – já com desígnio e propósito para possibilitar a consecução das etapas seguintes de todo o processo criativo, incluindo o estabelecimento das condições ambientais e ecológicas necessárias para a criação e manutenção da intrincada interdependência entre a vida vegetal, animal e humana nesse novo mundo que estava sendo modelado.

Essa “matéria primordial” (elementos e substâncias químicas), criada a partir do nada, muito apropriadamente foi chamada no texto bíblico de “pó da terra” (Gênesis 2:7), em conformidade também com o que é descrito em Provérbios 8:28 nas considerações feitas a respeito do princípio de todas as coisas: “Ainda Ele não tinha feito a Terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo.” Essa expressão “princípio do pó do mundo” poderia hoje ser entendida como se referindo às estruturas atômicas e nucleares extremamente complexas constituintes da matéria original dos mundos galácticos, estelares e planetários, bem como das estruturas moleculares extremamente complexas constituintes dos seres vivos em geral, e do ser humano em particular.

Dessa forma, ao “Deus formar ao homem do pó da terra”, jamais estaria Ele fazendo um “boneco de barro” (o que seria inaceitável até mesmo como uma figura de linguagem) que se transformasse magicamente em um ser humano de forma independente de um planejamento coerente com desígnio e propósito previamente estabelecidos, visando à própria manutenção da complexa interdependência entre todos os tipos de vida que estavam sendo criados nesse novo planeta.

Assim, a atuação de Deus na formação do homem, mediante Seu poder e Sua sabedoria (como Deus onipotente e onisciente) teria sido procedida de acordo com um planejamento de sucessivas sínteses orgânicas em cadeia, da mesma forma como procedido na criação anterior de todos os demais seres vivos, de tal maneira que fossem processadas as reações químicas necessárias, em conformidade com leis anteriormente estabelecidas pelo próprio Criador, para tornar possível a formação de complexas moléculas que se organizassem na forma de substâncias orgânicas necessárias à formação de tecidos, órgãos e sistemas; dessa forma completando a elaboração de toda a estrutura corporal previamente idealizada.

Além do mais, para a finalização desse projeto da criação do ser humano, deveria ter sido incluída toda a informação necessária para a ativação final de toda essa estrutura elaborada como um sistema de alta complexidade, para que então recebesse o “sopro de vida” energizante, e se tornasse uma “alma vivente” formada à imagem de Deus!

Neste ponto, cabe rememorar o episódio relatado em Êxodo 3:5, em que a presença de Deus se manifesta a Moisés pronunciando as palavras: “Não te chegues para cá; tira a sandália dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êxodo 3:5). A terra ali era tornada santa pela presença do Deus santo que então Se manifestava a Moisés, da mesma forma em que aquele “pó da terra” (Gênesis 2:7) na presença do mesmo Deus santo constituiu a matéria-prima, santificada pela presença de Deus, a partir da qual foi criado o homem, “à imagem e semelhança de Deus” pelo Seu energizante sopro do fôlego de vida.

Com essas poucas considerações apresentadas neste texto, que destacaram algumas preciosas informações que muitas vezes têm passado desapercebidas até mesmo a sinceros pesquisadores da verdade, espera-se que pessoas, embora bem intencionadas, mas carentes de uma visão mais consentânea da majestosa concepção da criação do ser humano expressa nas palavras do relato de Gênesis, possam passar a compreender essa investida velada e insidiosa contra a autoridade e a veracidade da revelação de Deus ao homem, que apresenta um “boneco de barro” como grotesca deturpação do relato bíblico sobre a criação do ser humano.

(Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira é engenheiro e fundador da Sociedade Criacionista Brasileira)

Primeiro episódio de “Gênesis” expõe “teoria do intervalo”

Que tal aproveitar o momento para abrir e estudar sua Bíblia a fim de conhecer a história verdadeira e original?

genesis

Se levar as pessoas a conferir na própria Bíblia aquilo que está sendo exibido na tela, a novela “Gênesis”, da TV Record, terá produzido um efeito colateral positivo. Mas, como a maioria das pessoas não fará isso, infelizmente, em muitas mentes ficará a impressão de que Adão era um troglodita machista agressor e de que os dinossauros teriam sido extintos pela queda de Lúcifer e seus anjos rebeldes, ideia conhecida como “teoria do intervalo”, “teoria do caos e restauração” ou mesmo “teoria do Éden luciferiano”. Obviamente, uma interpretação muito equivocada do relato de Gênesis.

Segundo Moisés (autor inspirado dos cinco primeiros livros da Bíblia), antes de ser preparada para abrigar vida (terraformada), a Terra era sem forma e vazia. Quando Deus pronunciou as palavras “haja luz”, teve início a semana da criação, com seis dias literais e ininterruptos de 24 horas cada (veja o vídeo abaixo). No sexto dia foram criados os animais terrestres e o primeiro casal humano. Portanto, os dinossauros foram criados nesse dia e não muito tempo antes, numa tentativa de acomodar o relato bíblico com a visão evolucionista.

Os criacionistas bíblicos, em sua maioria (e essa é também a posição da Sociedade Criacionista Brasileira), acreditam que os dinossauros (ou pelo menos a imensa maioria deles) foram extintos por ocasião do dilúvio, daí a abundância de fósseis deles e de muitas outras espécies de animais e plantas – já que se sabe que o processo de fossilização depende de soterramento rápido sob água e lama (veja o vídeo abaixo).

Resumindo: a leitura do primeiro capítulo de Gênesis deixa claro que a Terra era sem forma e vazia antes de acolher vida, e não que se tornou sem forma e vazia no tempo dos dinossauros. A “teoria do intervalo” é, na verdade, uma aberração teológica semelhante à ideia da evolução teísta, pois coloca a existência da morte antes do pecado de Adão e Eva. Se a morte já existia, o salário do pecado não é ela, como explica o apóstolo Paulo em Romanos 6:3. Se a morte não é consequência do pecado de nossos primeiros pais, que dívida Jesus veio pagar na cruz? Deus passa a ser o culpado direto pela existência da morte e do violento processo evolutivo, e Jesus é despido de Sua missão messiânica, sendo encarado como mero revolucionário. Isso tudo atenta conta o caráter do Criador.

adao

Conforme escreveu Maurício Stycer no portal UOL, “o impacto visual de efeitos especiais não diminuiu em nada a sensação de que estava assistindo a uma aula sobre criacionismo. […] Driblando a teoria da evolução, a novela ‘ensina’ que foi Lúcifer quem causou a extinção dos dinossauros. […] No segundo capítulo, a punição a Adão e Eva se estendeu à família, que enfrenta uma vida de privações. Sob o olhar atento de Lúcifer, que aprecia o drama, todas as filhas de Adão abandonam o lar em protesto à rispidez e ao machismo do pai. Inflexível, Deus recusa uma oferta de Caim porque ele não ofereceu o melhor que tinha para dar”.

Eis aí os problemas: (1) a falsa impressão de que o que a novela apresenta seria a visão criacionista; (2) o preenchimento com excesso de imaginação das lacunas no relato bíblico e o abuso da licença poética; (3) a descaracterização dos personagens bíblicos ou mesmo a ideologização anacrônica deles; e (4) a imprecisão teológica, afinal, Caim não ofereceu “o melhor que tinha para dar”, ele recusou oferecer o símbolo da única coisa que poderia salvá-los: o cordeiro que apontava para o Cordeiro (João 1:29).

A novela contou com a ajuda de consultores como o arqueólogo Dr. Rodrigo Silva, mas isso não significa que eles tenham tido acesso ao roteiro dos episódios ou que pudessem interferir no texto. O consultor apenas presta informações técnicas sobre alguns aspectos que deverão constar na obra. E os roteiristas/produtores/diretores decidem o que vão considerar ou não.

Semana que vem a novela vai tratar do dilúvio. Vejamos o que vem por aí… Enquanto isso, que tal abrir e estudar sua Bíblia a fim de conhecer a história verdadeira e original?

Michelson Borges

O que é criacionismo ?

Uma possível explicação é: “Criacionismo é uma estrutura/modelo conceitual que adota para o estudo da natureza a possibilidade da existência de um criador. A vida teria sido criada inicialmente complexa, completa e funcional, em tipos básicos de seres vivos dotados do aporte necessário para sofrer diversificação limitada ao longo do tempo. Existem três principais ramificações distintas dentro do criacionismo: a religiosa, a bíblica e a científica.”

Referência: Editores. Os principais tipos de modelos das origens. Origem Rev. 2018;1(1):19-31.

Blog Criacionismo: desde 2005

Este blog foi criado em 2005 pelo jornalista Michelson Borges, com o propósito de divulgar em língua portuguesa conteúdos ligados à controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo. Inicialmente, o blog foi criado na plataforma Blogspot, depois o conteúdo passou a ser migrado para cá. Com atualizações frequentes e uma cobertura abrangente dentro do escopo da ciência e da religião, o blog criacionismo.com.br se caracteriza por uma abordagem não excessivamente técnica dos assuntos de que trata. O que tem sido divulgado na mídia a respeito do tema origens é matéria-prima para avaliação aqui.

Michelson Borges é pastor adventista do sétimo dia e jornalista, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi professor de História em Florianópolis e editor do jornal da Rádio Novo Tempo daquela capital, onde também apresentava um programa de divulgação científica. É editor da revista Vida e Saúde, da Casa Publicadora Brasileira, e autor dos livros A História da VidaPor Que CreioNos Bastidores da Mídia (publicado em espanhol, com o título Detrás de los Medios), Esperança Para VocêTerra de Gigantes (sobre dinossauros), A Descoberta (em coautoria), Expedição GalápagosO Poder da Esperança (também em coautoria e publicado em inglês com o título The Power of Hope), e da Série Grandes Impérios e Civilizações, composta de seis volumes. Mestre em Teologia pastoral pelo Unasp, mestre em Teologia pelas Faculdades EST e pós-graduado em Biologia Molecular pela Universidade Cândido Mendes, é membro da Sociedade Criacionista Brasileira e tem participado de seminários criacionistas e séries de palestras e pregações em várias partes do Brasil e do exterior. É criador e mantenedor dos blogs http://www.criacionismo.com.br e http://www.outraleitura.com.br. Casado com a pedagoga Débora Tatiane (coautora doa livroa O Que Ele Viu na Grécia e Se Minha Barriga Falasse), o casal tem três filhos, duas meninas e um menino. 

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