Gênesis 1: Universo jovem ou vida jovem?

Têm sido propostos dois modelos para a criação do Universo:

Modelo da Terra Jovem: o primeiro modelo, em geral, defende a criação da Terra – incluindo a sua modelagem para ter as condições necessárias para a existência da vida, bem como a própria vida em todas as suas manifestações – em seis dias, na semana da Criação, juntamente com a criação do Universo e do nosso Sistema Solar. Nesse primeiro caso, a semana da Criação corresponde, portanto, ao período da criação do Universo, juntamente com a modelagem da Terra para abrigar a vida, tendo os demais planetas e luas do Sistema Solar (criados nessa semana simultaneamente com a Terra) permanecido sem forma e vazios.[1: p. 23]

Modelo do intervalo passivo: em seu livro Origens, o zoólogo e paleontólogo Dr. Ariel Roth, ex-diretor do Geoscience Research Institute, nos informa que esse modelo é considerado uma variação do criacionismo da Terra Jovem.[2: p. 330] O modelo defende que Deus criou o Universo (espaço-tempo), estrelas e sistemas planetários, incluso a matéria da Terra (partículas elementares) em eras anteriores (época indeterminada), mas preparou a Terra para a vida e criou a vida somente poucos milhares de anos atrás, em seis dias (note a semelhança com o modelo geral da Terra Jovem).[3]

Nesse segundo caso, a semana da Criação relatada em Gênesis corresponde, portanto, somente ao período de modelagem da Terra (que sucedeu o período indeterminado desde a criação do Universo) para ter as condições necessárias para a existência da vida, bem como a própria vida em todas as suas manifestações.[4, 5] Nesse segundo caso, ainda, os demais planetas e luas do Sistema Solar teriam permanecido em seu estado original, sem forma e vazios, como eram desde o início da época indeterminada que precedeu a semana da Criação.[1: p. 23]

Richard Davidson, professor de Antigo Testamento da Universidade Adventista de Andrews, afirmou em artigo publicado na Revista da Sociedade Teológica Adventista que “várias considerações [o] levam a preferir o ‘intervalo passivo’ em relação ao modelo ‘sem intervalo’ [Terra jovem].”[6: p. 21; 7] Ademais, outros teólogos adventistas também concordam que um padrão de criação divina em dois estágios emerge de uma análise escriturística.[3, 5, 8, 9]

Dr. Ruben Aguillar, professor de Antigo Testamento da Faculdade Adventista de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) comenta sobre a relação do verso 1 de Gênesis com o modelo do intervalo passivo: “uma das palavras da Bíblia Hebraica bem estudadas e que ao mesmo tempo provoca interpretações polemicas é aquela com a qual começa o relato do Gênesis: bereshith, ‘no princípio’. A primeira sílaba é uma preposição inseparável traduzida sem dificuldades como ‘em’. Na língua portuguesa aparece acrescido com o artigo ‘o’ e que resulta em “no”. O termo reshith, traduzido como ‘principio’, encontra sua raiz no vocábulo r’osh, ‘cabeça’. Segundo o léxico hebraico, esse termo significa também: ‘começo’, ‘tempo primordial’, ‘estado primordial’, ‘tempo remoto’, ‘primeiro da sua classe’ em relação a tempo. Auxiliado pelas alternativas de tradução que o léxico apresenta o primeiro verso de Gênesis pode ser assim traduzido: ‘no tempo primordial Deus criou’, ou também ‘no tempo remoto Deus criou’; que concede ao verso um sentido de antiguidade de maior profundidade em termos de expressão temporal.”[10: p.15]

Professor Aguillar acrescenta que a análise do verso 2 de Gênesis reforça um entendimento coerente acerca da criação em dois estágios: “a ideia do intervalo passivo se fortalece ao analisar o verso 2 no texto hebraico, onde aparecem as palavras tohu vabohu, ‘sem forma e vazia’, sobre as quais está inserido o acento gramatical rebi’a. Os acentos na língua hebraica tem a função de relacionar uma palavra com as outras. Essa relação pode ser de união ou de separação. O acento rebi’a, que aparece nas palavras mencionadas é disjuntivo, da segunda classe superior, ou seja, a sua função é fazer separação ou indicar pausa. Observando através dessa lente, pode-se ver que a frase ‘estava sem forma e vazia’ faz separação entre as frases ‘no princípio criou Deus os céus e a terra’ do verso 1, com as que descrevem a semana da criação.”[10:p.13]

Para fins de esclarecimento, é importante mencionar que o modelo do intervalo passivo, citado acima, não deve ser confundido com o modelo do intervalo ativo (também chamado de Ruína-Restauração), proposto por Thomas Chalmers (1780-1847), famoso teólogo escocês, o qual defendia – sem qualquer evidência direta, científica ou escriturística – que a vida teria sido criada por Deus na Terra em passado distante pré-adâmico.[2: p. 330; 11] Segundo a página ADVindicate, editada pelo geólogo Monte Fleming, doutorando em Geologia pela Universidade de Loma Linda, esse modelo ainda diz que, após Satanás ter sido julgado, ele teria sido arremessado à Terra e destruído essa vida pré-adâmica supostamente existente. Essa destruição teria finalmente sido seguida pela criação descrita em Gênesis 1 e 2.[11]

Um problema frequentemente associado a ambos os modelos criacionistas (Terra Jovem e Intervalo Passivo) devido à ignorância, primeiro por parte de seus defensores leigos; depois, por parte de seus opositores, diz respeito à questão da criação da “luz” durante a semana da Criação.[2: p. 308] Muitas pessoas se utilizam do argumento de que Deus teria “criado” os luminares somente no quarto dia (Gênesis 1:14). Mas uma análise alternativa nos mostra que Deus poderia já ter criado a luz no primeiro dia (Gênesis 1:3); portanto, nesse sentido, o sistema solar já existia.

O erguimento parcial de uma densa nuvem no primeiro dia da semana da criação iluminou a Terra, porém, o Sol, a Lua e as estrelas, embora presentes, não eram visíveis a partir da Terra. A luz era semelhante à de um dia muito nublado. Uma retirada completa da cobertura de nuvens, no quarto dia, fez com que o Sol, a Lua e as estrelas, preexistentes, se tornassem plenamente visíveis da superfície da Terra. Daí os luminares serem mencionados somente no quarto dia. Ou então o Sol e a Lua podem ter sido criados no quarto dia, ao contrário das demais estrelas, que são mencionadas de forma parentética por Moisés, indicando que elas já existiam.

Os dois primeiros versos do livro de Gênesis também possibilitam uma segunda interpretação aceita, diga-se de passagem. por uma parcela significativa de adventistas criacionistas.[2: p. 309-310] A ideia aqui é a de que a declaração “Deus criou os céus e a Terra”, no verso 1 de Gênesis, diz respeito a um pequeno resumo ou introdução sobre o relato da criação da Terra e arredores que viria a seguir, acompanhada pela descrição, no versículo 2, de que “a Terra era sem forma e vazia e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. Isto indicaria materialidade anterior à semana da Criação, embora não estivesse diretamente relacionado a questões sobre o Universo (espaço-tempo). Essa descrição se aplica coerentemente a uma Terra pré-existente, sinalizando, indiretamente, que o Universo foi criado antes da semana da criação, juntamente com o tempo.

A maioria das traduções bíblicas propicia, de fato, uma afirmação ambígua, em vista de que o hebraico dos manuscritos bíblicos dá margem a mais de uma interpretação. No entanto, a descrição de uma Terra vazia, envolvida em trevas originais, é reforçada por descrições semelhantes em outras passagens bíblicas que falam de uma Terra original envolvida em “escuridão” (Jó 38:9) com uma veste de nuvens, e de uma Terra que “surgiu da água” (2 Pedro 3:5).

Em artigo publicado na Revista Adventista pelo pastor e mestre em Ciências da Religião Glauber Araújo vemos a explicação de que “acreditar que o Universo seja mais antigo do que a vida em nosso planeta não tem que ver com o pensamento evolucionista, mas com as evidências bíblicas”.[12: p.20] Isso corrobora o que ponderou John Lennox, declarado criacionista e professor de matemática da Universidade de Oxford, no livro Seven Days That Divide the World: “É logicamente possível crer nos dias de Gênesis como de 24 horas (ou uma semana terrestre) e crer que o Universo é antigo. E […] isso não tem nada que ver com ciência. Tem que ver com o que o texto está de fato nos dizendo” (p. 53).

O professor Richard Davidson [13: p. 51], no livro He Spoke and It Was, afirma ainda que as “análises recentes do discurso de Gênesis 1 […] indicam que a gramática do discurso desses versículos aponta para uma criação em dois estágios. A história principal não começa antes do versículo 3. Isso implica uma condição anterior dos ‘céus e Terra’ em seu estado ‘sem forma e vazio’, antes do início da semana da criação”.

Partindo dessa visão, Provérbios 8:26 diz que houve uma época em que nem sequer o princípio do pó deste mundo existia. O livro de Hebreus 11:3 diz que Deus criou as eras (tempo, eternidade). Ainda sobre o tempo, o astrofísico Eduardo Lütz afirma que “o tempo é um dos atributos do Universo. Existe uma profunda conexão entre a criação do tempo e a criação do Universo, não tem como separá-los. Se o tempo não teve um início, Deus não criou o que chamamos hoje de Universo, pois o tempo depende do Universo para existir”. Em outras palavras, segundo o astrofísico, “tempo pode existir sem matéria, mas matéria não pode existir sem tempo”.

O livro de Jó também aponta nessa direção. Ali encontramos dois textos que claramente sugerem a existência de outros seres criados além de nós (leia mais sobre isso aqui). Em primeiro lugar, quando Satanás compareceu perante o Senhor (Jó 1:6, 7), o texto faz referência a outros “filhos de Deus”, dando a entender que nosso planeta não era o único habitado.[12] É claro que, como afirma o astrofísico Eduardo Lütz, “a identidade dos ‘filhos de Deus’ em Jó 38:7 não é relevante para o argumento de que a Bíblia sugere a existência do Universo antes da criação da Terra. É apenas uma curiosidade tocada de passagem. Mas o que conta é que alguém criado por Deus comemorava ‘quando’ Ele lançava os fundamentos da Terra”. Em outras palavras, segundo Lütz, Jó 38:7 contradiz a interpretação de que a Terra tem a mesma idade do Universo, mas não contradiz Gênesis 1: “Não há qualquer base bíblica para se afirmar que o Universo tenha cerca de seis mil anos de idade ou que Gênesis 1 se refira à criação do Universo. Muito pelo contrário. Certos textos bíblicos (como Jó 38:4-7) sugerem que, quando o Criador ‘lançou os fundamentos da Terra’, já existiam até mesmo seres inteligentes em outras partes do Universo [como plateia]. E, mesmo que não aceitemos isso por alguma razão obscura, pelo menos precisamos reconhecer que Gênesis 1 não nos dá qualquer informação sobre quando e como o Universo foi criado.”[14: p. 6, 7]

Ao longo do meu trabalho de pesquisa e divulgação do criacionismo, tenho percebido que boa parte dos criacionistas da “Terra jovem” não consegue aceitar a interpretação de que apenas a “vida no planeta Terra seja jovem”, sendo o Universo e a matéria (partículas elementares) do planeta antigos. Mas, sem querer ser polêmico, percebemos que uma análise escriturística em conjunto com os dados atuais do conhecimento científico nos mostra que essa possibilidade existe, é razoável e deve ser introduzida na discussão sobre as origens.

Essa posição está em consonância com a declaração emitida pela Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), órgão máximo sobre criacionismo no Brasil, em sua análise editorial, como se segue: “À luz dos conhecimentos atuais, a criação dos céus e da Terra é algo posterior à criação do Universo.” [1: p. 18] Logo, a SCB conclui: “A criação de nossa Terra de maneira nenhuma deve ser confundida com a criação do Universo.”[1: p. 23]

Em suma, portanto, a principal distinção entre a interpretação do “intervalo passivo” e a interpretação “sem intervalo” é devida à questão de quando se deu o início absoluto dos “céus e da Terra” (Gênesis 1:1).[3] Enquanto o último interpreta Gênesis 1:1, 2 como parte do primeiro dia da criação de sete dias, o primeiro interpreta Gênesis 1:1, 2 como uma unidade cronológica separada por uma lacuna no tempo do primeiro dia da criação, como descrito em Gênesis 1:3. Segundo o que nos diz o astrofísico Lütz, “não tem como provar pela Bíblia que o Universo seja jovem. Também não tentamos provar pela Bíblia que o Universo seja ‘muito’ antigo. Apenas mostramos fortes indicações de que o Universo é mais velho do que a Terra”.

Diante do exposto, a pergunta que fica é a seguinte: Você se considera um criacionista da Terra jovem convencional ou um criacionista do intervalo passivo?

Obs: o NUMAR-SCB não tem uma posição definitiva sobre o assunto, e nem poderia bater o martelo sobre a questão de o universo ser antigo (conforme apontam as evidências escriturísticas) ou jovem (também apoiado em evidências tanto científicas quanto escriturísticas), uma vez que não se tem um consenso na comunidade teológica e, mais especificamente, na criacionista. O objetivo do texto é o de apenas apresentar ao nosso público esse modelo criacionista da Terra jovem, mas que aceita um “intervalo passivo” antes da semana da Criação literal descrita em Gênesis, e que já vem sendo discutido e aceito há décadas em outros países. Achei válido, de igual modo, inseri-lo nas discussões sobre as nossas origens aqui no Brasil. Mas é válido frisar que essa é uma área em que ainda são necessários mais estudos.

(Everton Alves)

Referências:

[1] Editores. Antes da semana da criação: vida em outros planetas do sistema solar? Revista Criacionista 2003; 32(69):18-23.

[2] Roth AA. Alternativas entre a Criação e a Evolução. Capítulo 21, pp.328-41. In: Roth AA. Origens. 2. Ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016.

[3] Sanghoon J. Interpretations of Genesis 1:1. Journal of Asia Adventist Seminary 2011; 14(1): 1-14.

[4] Coffin HG. Origin by Design. Hagerstown, MD: Review and Herald, 1983, 292–293.

[5] Widmer M. Older than creation week? Adventist Review 1992; 169(4):454-62.

[6] Davidson RM. The Biblical Account of Origins. Journal of the Adventist Theological Society 2003; 14(1):4-43.

[7] Davidson RM. In the Beginning: How to Interpret Genesis 1. Dialogue 1994; 6(3):9-12.

[8] Terreros MT. What is an Adventist? Someone Who Upholds Creation. Journal of the Adventist Theological Society 1996; 7(2):147–149.

[9] Moskala J. Interpretation of Bereʼšît in the context of Genesis 1:1-3. Andrews University Seminary Studies 2011; 49(1):33-44.

[10] Aguilar R. Os Céus, o Intervalo e a Semana da Criação. Parousia. 2010; 9(1):7-18.

[11] Brent Shakespeare. Esboço das teorias propostas para Gênesis 1:1-2. Advindicate (14/03/2013). Disponível em: http://advindicate.com/articles/2996

[12] Glauber Araújo. A Idade da Terra. Revista Adventista. Abril de 2016, pp. 20-23.

[13] Davidson RM. The Genesis account of origins. In: Klingbeil G. (Ed.). He spoke and it was: divine creation in the Old Testament. Oshawa: Pacific Press Publishing Association, 2015.

[14] Lütz E. O criacionismo e a grande explosão inicial. Revista Criacionista 2003; 32(69):5-17.

Astronauta brasileiro compartilhou foto para provar que Terra não é plana

O ex-ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes compartilhou em uma rede social na noite da terça-feira, 21 [de janeiro de 2020], uma foto para provar que a Terra não é plana e, sim, redonda. “Para quem ainda acha que a Terra é plana, veja segunda foto… kkk”, publicou Pontes no Twitter ao compartilhar um post do Centro de Voos Espaciais George C. Marshall, da Agência Espacial Americana, a Nasa. Pontes ficou famoso em 2006, quando a bordo de um foguete russo se tornou o primeiro astronauta brasileiro – e até hoje o único – a ir ao espaço. Durante oito dias, ele ficou no laboratório espacial, onde realizou uma série de experimentos para a Agência Espacial Brasileira (AEB).

Piloto de caça e engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com mestrado em Engenharia de Sistemas pela Naval Postgraduate School, na Califórnia, nos Estados Unidos, Pontes foi selecionado em 1998 para o programa da Nasa, onde foi declarado astronauta. […]

(Terra)

Nota: Gostaria de ver a coragem dos principais terraplanistas brasileiros em dizer ao Sr. Pontes que ele está mentindo, que nunca foi ao espaço e que não viu a Terra lá de cima. E mais: provarem isso. Infelizmente, esses propagadores de desinformação conseguiram macular o criacionismo ao passar a ideia de que os criacionistas seriam terraplanistas. Criei uma playlist em meu canal no YouTube justamente para desmentir essa ideia absurda (confira). A Sociedade Criacionista Brasileira se manifestou quanto a isso por meio de uma nota de repúdio (veja aqui). Pena que setores da mídia mal-intencionados e mais preocupados em fazer política estejam ignorando esse fato e promovendo essa associação falaciosa e injusta. Pena, também, que professos cristãos estejam participando de toda essa mentira, levantando falso testemunho (que é pecado) contra pessoas como o Sr. Marcos Pontes. [MB]

Como os terraplanistas explicam eclipses lunares totais

Esses dias tivemos um eclipse lunar total – mais especificamente, o fenômeno aconteceu na madrugada no dia 21 de janeiro e coincidiu com uma Superlua, evento que ocorre quando o satélite se encontra mais próximo do nosso planeta durante a fase de Lua Cheia, o que significa que também se tratou de uma Lua de Sangue. Como você sabe, os eclipses lunares se dão quando a Terra, o Sol e a Lua se alinham e o nosso planeta se posiciona entre os dois astros, impedindo que os raios solares cheguem até o satélite. Quem estava acordado para acompanhar o último eclipse pôde ver como a fiel companheira da Terra foi se tornando gradualmente mais escura conforme o nosso mundo ia ocultando o brilho solar, até a Lua apresentar um tom avermelhado, resultado de como a luz emitida por ela se dispersa na atmosfera.

Não há nada de novo na breve explicação acima, e a verdade é que a humanidade vem acompanhando e compreende como os eclipses acontecem há milênios. Mas, para os defensores da Teoria da Terra Plana, aquele pessoal que está convencido de que o nosso planeta, em vez de esférico, parece uma panqueca, não acreditam nessa explicação, não – e inventaram uma explicação pra lá de criativa (e muito louca) para o fenômeno!

De acordo com Hanneke Weitering, do site Live Science, apesar de os terraplanistas acreditarem que a Terra é plana, eles aceitam (por alguma razão) que o Sol e a Lua sejam esféricos. Só que, para os defensores dessa teoria, os dois astros orbitariam sobre o Polo Norte terrestre – que, em seu planeta em forma de disco, ficaria no centro do mundo –, o que tornaria impossível a ocorrência de um eclipse.

Mas os eclipses acontecem, né? Então, os terraplanistas, depois de questionados, explicaram que o último eclipse ofereceu aos terráqueos uma rara oportunidade de observar um objeto que orbita o Sol e que, muito de vez em quando, passa diante da Lua, lançado uma sombra sobre ela. O engraçado é que os defensores da teoria não apresentaram qualquer dado sobre a composição, dimensão ou origem dessa coisa misteriosa, e acrescentaram que, quando não está rolando nenhum eclipse, o objeto se torna invisível, já que orbitaria próximo ao Sol.

Oi?

Nem precisamos falar que, em séculos de observações por meio de telescópios e décadas de exploração espacial, nada com essa descrição foi observado nas proximidades do nosso planeta, certo? E sobre o tal objeto se tornar invisível por orbitar pertinho do Sol, como é que Mercúrio, planetinha com 40% do diâmetro da Terra e que consiste no mundo do Sistema Solar que orbita mais próximo do nosso Astro-Rei, pode ser avistado?

Ainda sobre o objeto misterioso, segundo os terraplanistas, ele apresenta um ângulo de inclinação de 5,15 graus com respeito ao plano orbital do Sol – número que “coincide” com o ângulo de inclinação da órbita da Lua com respeito à da Terra –, mas não deram maiores explicações de onde tiraram essa informação.

E mais: os defensores da Teoria da Terra Plana disseram que o tal objeto poderia ser um astro conhecido que orbita ao redor Sol, mas que seria necessário realizar mais estudos para que esse dado seja confirmado. Aguardaremos ansiosos, mas com menos entusiasmo do que sentiremos enquanto esperamos pelo próximo eclipse – fenômeno celeste que só ocorre porque a Terra é esférica!

(Megacurioso)

Nota: Para ficar claro: esse fenômeno celeste em que a sombra da Terra é projetada na Lua só ocorre porque a Terra é esférica e o modelo correto é o heliocêntrico. Ponto. Ou estariam certos os terraplanistas modernos que muitas vezes não sabem a trigonometria básica sobre um triângulo esférico, quanto mais as relações e implicações entre a geometria e as leis do mundo físico? Terraplanistas negam a existência de referenciais relativos (a Terra não pode ser uma “bola molhada” girando rápido no meio do nada, caso contrário, nós perceberíamos). Quero ver pularem do vagão de um trem de luxo, onde todos os móveis aparentemente estão “parados”. Ou que pulem de um carrossel em movimento. Experimento simples.

Sobre os tais “orbis escuros” (objetos circulares e semitransparentes ou demônios vedas!) indetectáveis… Por que somente passam na frente da Lua quando ela é nova ou cheia? Se esses astros invisíveis são desconhecidos e indetectáveis, como conseguimos calcular exatamente quando ocorrem eclipses? Entendeu por que terraplanistas odeiam eclipses e matemática?

Resta ainda a carta na manga preferida deles: a culpa é da Nasa. Deve ser alguma projeção dos norte-americanos, ou algo dessa natureza. Bem, quando os terraplanistas apelam para supostas conspirações da Nasa, podemos pensar: Será que Copérnico, Galileu, Kepler, Isaac Newton (pais da ciência moderna, cristãos heliocentristas “globalistas” notáveis) e tantos outros faziam parte dessa conspiração também?

Assista a vários vídeos sobre terraplanismo. Clique aqui.

O mistério do relógio de Acaz

Relogio

De vez em quando, alguém pergunta o que exatamente Deus teria feito para efetuar o milagre do retrocesso de 10 graus na sombra no relógio de sol de Acaz (2 Reis 20:11). Temos alguma pista sobre isso?

O caso é bastante semelhante ao do dia longo de Josué, o qual, segundo evidências arqueológicas, foi um fenômeno mundial, pois correspondeu a uma noite longa nas Américas. Isso indica que a Terra parou de girar no caso de Josué e chegou a retroceder no caso de Acaz. Um contra-argumento comum é o de que um fenômeno assim seria catastrófico a ponto de provavelmente eliminar a vida na Terra. Para ter uma ideia em miniatura do problema, basta imaginar um carro viajando em alta velocidade por uma estrada e tendo sua velocidade reduzida a zero muito rapidamente ao bater contra uma rocha. O carro provavelmente seria destruído e seus ocupantes obviamente morreriam no processo. Portanto, alguma outra coisa deve ter ocorrido tanto no caso do relógio de Acaz quanto no dia longo de Josué, certo. Na verdade, esse é um argumento falacioso (enganoso).

Usaremos de um certo abuso de linguagem para tornar a explicação mais acessível.

Aproveitemos a analogia do carro para examinar o problema um pouco mais de perto em uma situação menos extrema. Imagine o carro viajando a uma velocidade de, digamos, 100 km/h. Quando o freio é acionado, ele faz com que surja uma força (torque, mais precisamente) que tende a fazer com que as rodas parem de girar. Por causa do atrito entre os pneus e a estrada, o efeito final é que o carro é afetado por uma força em sentido contrário a seu deslocamento, causando uma “desaceleração” (uma aceleração em sentido contrário ao do movimento).

Por causa da inércia (tendência natural a permanecer no mesmo estado de movimento), os ocupantes do carro tendem a continuar viajando com a mesma velocidade ao passo que o veículo tende a deslocar-se cada vez mais lentamente. Isso dá às pessoas a sensação de serem impulsionadas para a frente, pois sua percepção baseia-se no referencial do carro. Mesmo de olhos fechados, os ocupantes podem saber quando o carro aumenta ou diminui sua velocidade por causa desse efeito de inércia. Se a alteração de velocidade for muito abrupta, o resultado pode ser fatal. A causa do problema está nas forças que as partes do veículo impõem umas sobre as outras e sobre os passageiros. Isso ocorre porque a força de frenagem ou de aumento de velocidade é aplicada a uma parte do veículo e então transmitida, por meio dela a todas as demais partes bem como aos ocupantes. Se essas forças forem suficientemente grandes, podem destruir tudo.

O que aconteceria se a mesma aceleração aplicada ao eixo das rodas também fosse aplicada a cada partícula do veículo e de seus ocupantes? Nesse caso, não haveria tensão entre partes do veículo nem entre elas e os ocupantes. De fato, seria impossível perceber a aceleração sem observar o ambiente externo ao carro. A aceleração poderia ser altíssima ou muito baixa e os ocupantes do veículo não sentiriam a diferença.

Para frear ou acelerar um carro dessa maneira, seria necessário um “campo de forças” ou, mais precisamente, um campo de acelerações. Pode parecer ficção científica, mas a gravidade funciona exatamente assim. Um carro sobre uma rampa a uma velocidade suficientemente alta, ao terminar a subida, pode perder contato com a rampa e ter sua componente vertical da velocidade freada rapidamente pela gravidade sem que isso faça com que os ocupantes do veículo sejam projetados violentamente para o teto. Apenas tendem a acompanhar naturalmente o movimento do carro, uma vez que a mesma aceleração da gravidade que atua sobre o veículo, atua também sobre eles. Nenhum efeito catastrófico ocorre a não ser quando batem no solo.

Campos gravitacionais também podem atuar de outras maneiras. Existe, por exemplo, o efeito Lense-Thirring, previsto em 1918: um objeto com grande massa e em alta velocidade de rotação pode “arrastar” o espaço ao seu redor induzindo movimentos tangenciais em objetos ao seu redor, fazendo com que órbitas em torno do objeto central sofram precessão.

Após esse passeio por noções de Física básica, podemos voltar nossa atenção ao problema do relógio de Acaz e o do dia longo de Josué. Se o torque aplicado para deter ou mesmo inverter a rotação da Terra fosse aplicado na forma de um campo que afeta cada partícula da mesma forma, não haveria qualquer efeito perceptível a não ser a alteração no movimento em relação a referenciais externos. E Deus poderia fazer isso sem violar qualquer lei física.

(Eduardo Lütz é bacharel em Física e mestre em Astrofísica Nuclear pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

A Estrela de Belém será observada novamente?

“Uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.”

saturn

ASPECTO ASTRONÔMICO: “Se você olhar para o céu hoje, notará dois pontos brilhantes, de coloração amarelada, deslocados um pouco para o oeste. Pois bem, esses dois pontos brilhantes são os planetas Júpiter (o mais brilhante) e Saturno (o menos brilhante). Por serem planetas, eles não estão fixos. Ao contrário, movimentam-se ao redor do Sol, assim como a Terra. Com o passar das noites você perceberá que eles se deslocam gradativamente pelo céu. É justamente por conta desse deslocamento que, algumas vezes, em razão do nosso ângulo de vista aqui da Terra, eles acabam se alinhando ou aparentando estarem muito pertinho um do outro, chegando ao ponto de parecerem um único objeto bastante brilhante. É exatamente isso que vai ocorrer na noite de Natal! Júpiter e Saturno, observados aqui da Terra, estarão bem pertinho um do outro, fazendo-os parecer uma estrela muito brilhante, ao oeste. Esse fenômeno se chama “conjunção planetária”. É um evento astronômico relativamente comum e pode envolver diversos corpos celestes, como a própria Lua. Portanto, nada de estrela! São dois PLANETAS que estarão muito próximos um do outro, no céu. Apenas isso!” (Skynews Astronomia)

ASPECTO RELIGIOSO: Sobre a estrela de Natal, primeiramente é bom deixar claro que Jesus não nasceu em 25 de dezembro, mas, provavelmente, durante o período da Festa dos Tabernáculos (durante a primeira quinzena de outubro do ano 2 a.C.). A história relacionada com uma estrela em Seu nascimento vem de uma profecia de Balaão feita 1.500 anos antes: “Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel” (Números 24:17).

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Cérebro humano tem semelhanças intrigantes com teia cósmica de galáxias

cerebro-universo

Um astrofísico e um neurocirurgião podem parecer uma dupla que tenha pouco a estudar em conjunto, mas Franco Vazza (Universidade de Bologna) e Alberto Feletti (Universidade de Verona) mostraram que é possível estabelecer paralelos entre campos do saber que aparentam ser totalmente desconexos. Os dois compararam a rede de neurônios do cérebro humano com a rede cósmica das galáxias – e encontraram similaridades surpreendentes. É fato que a diferença de dimensões é descomunal, mas a dupla não partiu do nada: eles começaram o estudo porque viram que existem alguns paralelos interessantes.

A teia cósmica estudada tem cerca de 100 bilhões de galáxias, enquanto o cérebro humano tem calculados 69 bilhões de neurônios. Nos dois sistemas, apenas 30% são constituídos pela massa das galáxias e dos neurônios. As galáxias e os neurônios se organizam em longos filamentos, com nós entre os filamentos. E, finalmente, nos dois sistemas, 70% da distribuição de massa ou energia é composta de componentes desempenhando um papel aparentemente passivo – a água, no caso do cérebro, e a energia escura, no caso do Universo observável.

Assim, não é tão surpreendente que a análise quantitativa feita pelos dois cientistas italianos revele que processos físicos muito diferentes podem dar origem a estruturas com níveis similares de complexidade e auto-organização. [Seria essa a assinatura do Grande Designer?]

Começando pelas características similares do cérebro e do Universo, os dois pesquisadores compararam uma simulação da rede de galáxias com uma simulação de seções do córtex cerebral e do cerebelo – o objetivo era observar como as flutuações da matéria se espalham pelas duas redes de tamanhos tão diferentes, mas com um número comparável de nós.

“Nós calculamos a densidade espectral dos dois sistemas. Essa é uma técnica muito usada em cosmologia para estudar a distribuição espacial das galáxias”, explicou Vazza. “Nossa análise mostrou que a distribuição da flutuação dentro da rede neuronal do cerebelo, em uma escala de 1 micrômetro a 0,1 milímetro, segue a mesma progressão da distribuição da matéria na teia cósmica, mas, é claro, em uma escala maior, que vai de 5 milhões a 500 milhões de anos-luz.”

Eles também calcularam alguns parâmetros que caracterizam tanto a rede neuronal quanto a teia cósmica: o número médio de conexões em cada nó e a tendência de agrupamento de várias conexões em nós centrais relevantes dentro da rede.

“Mais uma vez, parâmetros estruturais identificaram níveis de concordância inesperados. Provavelmente, a conectividade no interior das duas redes evolui segundo princípios físicos similares, apesar da diferença marcante e óbvia entre as potências físicas que regulam galáxias e neurônios”, acrescentou Feletti. “Essas duas redes complexas apresentam mais similaridades do que aquelas compartilhadas entre a teia cósmica e uma galáxia ou entre uma rede neuronal e o interior de um corpo neuronal.”

Os dois pesquisadores gostaram tanto dos resultados que já estão pensando em desenvolver técnicas de análise que possam ser usadas em ambos os campos – cosmologia e neurocirurgia – para obter uma melhor compreensão da dinâmica dos dois sistemas conforme eles evoluem ao longo do tempo.

(Inovação Tecnológica)